SOBRE REDES SOCIAIS

*Por Daubert Gonçalves

As  redes sociais tem se tornado nas últimas décadas, indiscutivelmente, um local de paixão e ódio em função do grande número de adeptos e usuários gratuitos e pagos.

Esta paixão, minuciosamente capturada pelos milagrosos algoritmos, transformam uso em hábito e hábito em dependência para, claro, se tornar um empreendimento lucrativo.

O que a maioria das pessoas não percebem é a necessidade da “empresa” em tornar todos seus usuários dependentes desta vivência desde a época de ICQ e ORKUT (para quem ainda sabe o que foram estas plataformas; risos).

A genialidade destas pessoas que criaram as tais redes sociais marcaram esta época e, definitivamente, entraram para a história da humanidade formatando um novo mercado e criando uma nova perspectiva de contatos mesmo que em distância.

Com o passar das décadas um novo nível de controle foi instituído na humanidade ocidental baseado exclusivamente nesta “dependência” muito bem arquitetada e calculada com requintes de crueldade e visão no lucro que descobriam poder gerar.

O curioso mesmo é poder presenciar a íntima relação que os ditos usuários contemplam entre um ser biológico e os seres digitais elevando o nível de dependência à possibilidade de felicidade e esta é a definição clássica de “esperança”; esperança é o aumento de potencial baseado em fatos inexistentes.

Antes de prosseguir, porém, se faz necessário explicar a que tipo de potencial me refiro. Este potencial é a indelével sensação de que tudo é possível e realizável pelo único motivo de querer e se sentir capaz.

Prosseguindo no raciocínio, nas redes sociais, por mais trágico que seja o momento, todos são “felizes” e “realizados”. Os “construtores” conseguiram aumentar o potencial individual baseados em fatos inexistentes e, segundo consta, este é exatamente o mesmo efeito de psicotrópicos, anfetaminas e outras drogas físicas para o físico que resultam em movimentos psicológicos

Quem lê este texto conhece com toda certeza alguém que acorda, literalmente, com o celular em rede social vendo post, mensagens e outros que, de alguma forma, acredita na tentativa da plataforma contribuir para seu aumento de potencial, mas, como relatos, toda boa droga dura pouco e, em poucos minutos, numa nova dose é necessária.

Pois bem, temos que lembrar que, segundo pesquisas e informações prestadas por amigos e amigas médicas, como todo “psicotrópico”, as redes sociais alteram a função cerebral, humor, consciência e comportamento levando muitas vezes ao isolamento de convívio pessoal (considerando condições sociais normais e adequadas) e tudo isso com a esperança de uma vida ideal e felicidade contínua demonstrada sem a possibilidade de demonstrar a realidade como é; que o ser humano possui fases, momentos, ciclos e que a “terra prometida” nunca foi encontrada.

A partir deste momento as mesmas frustrações, angústias, desesperos e desequilíbrios vem à tona e ressoam na alma despreparada em busca de, pelo menos, demonstrar felicidade para o alheio e a próxima dose são os minutos de tela de cristal elevando suas sensações ao contato com o “touch screen”.

Se formos pensar em relações verticais onde há um viciado há um traficante.

Após toda sensação de “nirvana” e na desastrosa queda à realidade e quando uma nova “dose’ é “necessária”, ainda mais, quando o “fornecedor” tem certeza absoluta que você está capturado pelo vício já instigado, praticado e confirmado através de centenas de horas de uso qual a melhor tática para passar a lucrar?

Suspender o fornecimento gratuito.

Isso meus pais já me diziam desde a década de 70 como era nas ruas, que “alguém” te ofereceria “algo” gratuito, depois um pouco mais, depois um pouco mais até a hora que a certeza de sua dependência fosse clara e notória para “suspender” o fornecimento.

Levando isso para as redes sociais é justamente no ponto em que você não vê mais suas métricas tendo o desempenho que você estava “acostumado(a)” e, de certa forma, sua “necessidade” de continuar se “mostrando” vencedor atrás de uma tela “líquida”.

Esta reflexão é necessária para que o “poste não faça mais xixi no cachorro”, ou seja, os usuários e as usuárias, gratuitas ou não, precisam ter consciência que o único ser academicamente e empiricamente sociais é o ser humano e que as redes sociais SÓ EXISTEM PORQUE EXISTEM HUMANOS QUE AS ALIMENTAM.

Na década de 90 eu empunhei a bandeira do ser onisciente das redes eletrônicas e, na época, faltou muito pouco mesmo para me internarem rs. Hoje nos deparamos com cálculos de presença virtual, algoritmos, inteligência artificial e, repito, todo um organismo “vivo” que se alimenta da energia dos seres biológicos e os torna dependentes fazendo-os acreditar que os seres biológicos é que existem em função dos seres digitais.

Esta época chegou e estou muito ansioso de encontrar algum dos meus “amigos” que “chacotaram” minha teoria mas este é um outro assunto. O que me levou mesmo a escrever este artigo é a petulância das redes sociais se acharem o ser supremo da humanidade, se colocarem sorrateiramente no lugar da única divindade existente e, neste exato momento, uma epifania me ocorre baseado exclusivamente em observação: Seria este o motivo de tanto esforço de algumas (não todas) redes sociais tentarem substituir os graus de parentesco, família, igreja, leis e filosofia já existentes?

Como já repeti centenas de vezes, o ocidente possui um tripé de constituição forjado no decorrer dos séculos formado por leis romanas, filosofia grega e cristianismo. A partir do momento que o “zoon politikón” (animal político, mais precisamente social, definição de Aristóteles para o ser humano) se depara com a falta de qualquer elemento deste tripé sua necessidade de segurança, muito bem explicada por Maslow, aparece na incauta procura pela substituição para “preencher” o vazio que se formou e essa busca desesperada pode ser preenchida unicamente com o aumento de potencial. Aumento de potencial “fornecido” em muitos casos pelas redes sociais onde tudo tem obrigação de ser belo, ser esperançoso e relativamente fácil.

O alerta que trago neste artigo, 30 anos depois da minha primeira percepção de inversão de reconhecimento planejado, é que os leitores se conscientizem que o elemento mais importante das redes sociais são os humanos, sem os quais as redes não existiriam e que, mais ainda, são as redes sociais que dependem de nós e não nós delas.

Vamos lembrar que, apesar da modernidade e a “necessidade gerada diuturnamente de altos conhecedores de tecnologias” só e somente só existem porque nós OS HUMANOS somos mais, muito mais, essenciais para o planeta terra que as redes sociais.

Se hoje, neste exato momento, uma hecatombe tecnológica ocorrer e toda e qualquer forma de tecnologia desaparecer somos NÓS, OS SERES HUMANOS, quem reconstruirá tudo novamente de acordo com NOSSA VONTADE E NECESSIDADE mas, porém, se o inverso acontecer, não existe, por enquanto, registro de auto gestão e/ou retroalimentação digital para que o “sistema” continue a existir.

Tenha consciência que suas paixões e ódios estão sendo manipulados por algoritmos planejados por gênios que querem sua dependência biológica e orgânica em algo que absolutamente ninguém pode tocar.

*Daubert Gonçalves é Graduado em Gestão Pública, MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades, Auditor Interno ISO 9001/15 e coordena a estratégia e os trabalhos da equipe do GRUPO TOL.

Certificados (diversas áreas): https://www.grupotol.com.br/certificados-daubert-goncalves/