SÉRIE: QUAL TIPO DE EMPRESÁRIA OU EMPRESÁRIO VOCÊ É? # 4 – AS XÍCARAS CHEIAS

*Por Daubert Gonçalves

4 – AS XÍCARAS CHEIAS

Quantas vezes você conversou com pessoas com a “xícara cheia”?

Pessoas com a “xícara cheia” (XC) são pessoas que, por mais variado que seja o assunto, elas simplesmente não ouvem, não se importam com a forma ou conteúdo que seja demonstrado sempre terão a única solução. Quando falo única, é a única mesmo!

Não estão abertas a outras opiniões, nem sequer a outros métodos e muito menos ainda a outras óticas de problemas que, normalmente, são de fácil solução.

Para o entorno essas pessoas trazem vantagens e muitas desvantagens e para começar bem a semana vamos tratar das vantagens.

Entendam que estas “vantagens” são exclusivamente para quem orbita estes seres, ou seja, quem trabalha junto, se relaciona mantendo alguma relação de interesse comercial.

Vantagem 1 – Toda e qualquer responsabilidade sobre a decisão é exclusivamente de quem possui a ‘xícara cheia”, desta forma, a não ser que haja um problema de caráter que faz “terceirizar” a culpa, os prejuízos causados são exclusivamente de sua conta.

Vantagem 2 – Não existe.

Estamos tratando do meio empresarial e, como a maioria sabe, os números não aceitam desaforo. Pensando desta forma, as decisões de nível estratégico, seja a empresa que for, determinam o futuro da empresa, das empregadas e empregados**, fornecedores, prestadores de serviço e toda uma rede que, em tese, está ligada ao bom funcionamento da primeira empresa.

É um engano pensar que as atitudes internas atingem apenas quem está sob o teto da empresa, existe um desmembramento muito mais longo do que os olhos simplesmente veem. Para exemplificar:

Em um dia dito normal em qualquer empresa, independente do seu tamanho, temos empregadas e empregados no interior da “firma”, máquinas funcionando, equipamentos sendo utilizados, veículos transportando pessoas ou materiais, energia elétrica consumida, um estabelecimento (prédio) sendo este o mínimo a ser analisado.

O funcionamento deste conjunto pode assumir uma característica semi autônoma se o alinhamento entre os setores e, principalmente, das pessoas que a compõe estiver alinhado a um objetivo comum que, por menos que alguns queiram, é o bem estar da organização.

Mesmo considerando uma pequena empresa, estes “objetos” estão em sua constituição.

No decorrer do tempo as proprietárias e proprietários instituem sua rotina que nem sempre está alinhada à necessidade de mercado. Normalmente os sócios fundadores se prendem em um passado que “deu certo”, não inovam, não buscam outras bases de dados de conhecimento (knowledge) e, com sua rotina constituída, dando “certo” e pagando as contas, simplesmente não se preocupam a se atualizar pois seu conhecimento é suficiente para manter a empresa “funcionando”

Claro que isso ocorre normalmente em empresas familiares onde os principais cargos são ocupados por parentes da(o)(s) proprietária(o)(s) e nenhuma perspectiva de crescimento profissional é possível para as empregadas e empregados mas, não tão raros casos, também ocorrem em empresas não familiares de pequeno e médio porte.

Voltando ao nosso exemplo, a proprietária ou proprietário já possuem sua rotina estabelecida, traduz para os demais que apenas eles tem a solução para todos os problemas e que sua solução é a primeira e exclusiva opção.

Com este posicionamento cria uma base de ações previsível porém estática sem a possibilidade de novos processos serem instituídos e os possíveis “atalhos” ficam renegados ao ponto de não serem cogitados causando a estagnação nos processos e nos procedimentos internos.

No Japão, as empresas funcionam “ao contrário” (sem intenção de trocadilho), são as empregadas e empregados que “estipulam” o formato dos processos pois estão na linha de frente, onde as dificuldades realmente ocorrem. Com isso os “chefes de área” lidam em um curtíssimo espaço de tempo com os problemas e determinam a correção em tempo ao ponto que a linha de produção não seja interrompida e/ou prejudicada. Os setores superiores recebem os relatórios com as alterações e os manuais de procedimento são alterados. Este é um dos grandes “segredos” da produção japonesa e de como as empresas progridem em tempo excepcional comparado ao restante do mundo. Basta citar que o Japão passou por transformações culturais drásticas, guerras além, é claro, dos desastres naturais que dizimaram cidades reconstruídas com exatidão e rapidez.

Isso ocorre porque os processos estão alinhados e a construção de novos procedimentos são ágeis pela competência técnica (knowledge) além de serem flexíveis em função da necessidade.

Lembram da relação orbital da empresa exemplo?

Continha, neste caso:

– Empregadas e empregados

– Fornecedores

– Prestadores de serviço

– Equipamentos

– Veículos

– Energia elétrica

– Instalações

Bem, considerando que o nível estratégico desta mesma empresa seja “XC”, as empregadas e empregados, por mais motivados que cheguem, se recolhem exclusivamente ao operacional pois sua motivação não é devidamente explorada, suas sugestões são vilipendiadas ao ponto de nunca verem qualquer sugestão pelo menos considerada.

Os fornecedores deixam de sugerir novos produtos e passam de parceiros a repositores de material onde ganham seu dinheiro;

Os prestadores de serviço respondem exclusivamente ao necessário para que seu pagamento seja garantido pois qualquer sugestão se torna um “momento de desconfiança” para a proprietária ou proprietário se indagando, na maioria das vezes, em querer saber o que “realmente” querem com esta “sugestão”

Os equipamentos se tornam obsoletos com grande velocidade e o nível de produção baixa para apenas o necessário ao invés de propiciar crescimento para a organização

Os veículos são frequentemente reparados pois novos “não são necessários” considerando que os atuais cumprem sua função porém o custo de reparo é constante gerando uma necessidade de reserva de “emergência” muito maior com um custo maior ainda.

Novas tecnologias como, por exemplo, banco de capacitores jamais serão cogitados pois, na mentalidade da(s) proprietária(s) e proprietário(s) o dimensionamento do quadro de distribuição sempre foi suficiente e, afinal, as contas estão sendo pagas.

E, para este exemplo, por fim, por qual motivo esta(s) empresária(s) e empresário(s) deveriam melhorar as instalações? Sua visão é de que tudo está funcionando muito bem e as contas estão sendo pagas além de garantir uma viagem aqui ou alí.

Trabalhar em uma empresa com o nível estratégico engessado serve sim para alguns, normalmente para pessoas que estão próximas à aposentadoria pois, na maioria destes casos, o que interessa é apenas a passagem e contagem do tempo e para pessoas acomodadas, que não se preocupam com o crescimento pessoal e profissional e que procuram um lugar para ficar e reclamar.

Qual o remédio: É lógico que a alteração de costumes é dolorosa e incômoda mas se você compreende que sua empresa é importante para a sociedade e que a atualização dos movimentos internos também se refletem na sociedade e, ainda, que a sua atualização é necessária para uma sociedade melhor, contrate uma assessoria.

Este  é o ponto onde a “viciada” ou “viciado” compreendem que precisam de ajuda e que essa ajuda vem para alterar o que precisa ser melhorado ao pondo de contrariar muitas determinações baseadas unicamente em costume. Uma boa assessoria empresarial, apesar de pouco valorizada no Brasil (como tudo) é a observadora do jogo de xadrez fora da mesa. Enxerga os movimentos com antecedência e sugere as melhorias internas e externas.

É lógico que a assessoria não fará milagres e é necessário que as proprietárias e proprietários estejam dispostos a se depararem com seus equívocos. Como comentei, é um processo doloroso e incômodo mas trará grandes benefícios para sua empresa e toda sociedade.

Se você achou o texto engraçado é porque conhece alguém com este perfil, mas, se você ficou irritada ou irritado com o texto é porque possivelmente é uma empresária “xícara cheia” ou empresário “xícara cheia”. Eu posso te ajudar.

Até o próximo “Que tipo de empresária ou empresário você é?”

Daubert Gonçalves

*Daubert Gonçalves é Graduado em Gestão Pública, MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades, MBA em Ciências Políticas, Bacharelando em Administração Pública e Auditor Interno ISO 9001/15.

** Alguns gestores de RH insistem em falar de colaboradores, pois bem, quando você se candidata a uma vaga você busca um emprego ou um local onde vai colaborar? Quem é absorvida ou absorvido por uma empresa em função de um emprego é empregada ou empregado. Colaboradora ou colaborador simplesmente colaboram, não precisam receber para isso.

SÉRIE: QUAL TIPO DE EMPRESÁRIA OU EMPRESÁRIO VOCÊ É? # 3 – OS VAMPIROS

*Por Daubert Gonçalves

3 – OS VAMPIROS

A maioria das empresárias e empresários tem a obrigação moral de valorizar seus produtos e empresas gerando a expectativa de solução de problemas para seus clientes, isso não é novidade. Agora, se alimentar da expectativa alheia para poder produzir pelo simples fato de não possuir energia própria isso já é bem diferente.

O grupo de empresárias e empresários que trarei neste texto literalmente “rouba” energia de suas funcionárias, funcionários, fornecedores e prestadores de serviço com suavidade e estratégias que estão muito além do eixo de “normal”.

Quando elas e eles aparecem?

Quando percebem que eles têm algo que pode ser interessante para quem observa. A partir deste momento entram em simbiose de concordância para atrair sua “presa” do momento. Do momento porque se “alimentam” da expectativa de quem se aproximar com a menor cerimônia possível.

O comportamento usual deste tipo de empresária ou empresário é de ser agradável, mas com certa distância. O espaço que estes seres mantêm é a chave de ouro para alcançar seu objetivo detendo uma órbita de pessoas satélites que, atraídas pelo seu “magnetismo” inflam seus egos de utilidade excepcional do meio em que transita.

Não fazem questão de demonstrar a todo instante o que possuem, afinal, este é o trunfo que manterá sua “órbita” de “sedentos” e a centralidade das intenções sobre suas cabeças em um movimento contínuo de absorção simulado de troca justa. Afinal, para quem estas empresárias e empresários trabalham a não ser para si mesmos. Elas e eles não se importam com a empresa, com as funcionárias e funcionários, fornecedores ou prestadores de serviço, seu único objetivo é se satisfazer com a atenção alheia mostrando o objeto de desejo à distância e instigando seus “observadores” a se esforçarem ao extremo para alcançar sem nunca ser entregue.

A sua necessidade de atenção é desesperada ao ponto de, passivamente, até, se demonstrarem frágeis e com melancolia quando o que há para oferecer não atrai a quantidade “suficiente” de expectadoras e expectadores.

Vou exemplificar para esclarecer:

Um determinado empresário conversava com um conhecido que trabalha no ramo de imóveis. No decorrer da conversa citou uma área muito negociável de um parente próximo e que, segundo sua visão, seria um bom investimento para qualquer pessoa que tivesse condições de adquirir a área. O conhecido, que é profissional da área, se interessou, começou a perguntar e a conjecturar possibilidades de contato com os proprietários. O tal empresário continuou a fornecer informações a respeito da tal área, que tinha estrutura próxima, saídas favoráveis para a rodovia mais próxima, futuros pontos de integração com a cidade pela parte anterior das estradas informais que serviam o local, enfim, esboçou todas as possibilidades positivas. O conhecido deste empresário se prontificou a intermediar todas as fases de negociação, apresentação de possíveis interessadas e interessados, enfim, gerou expectativas para uma negociação que seria boa para todas as partes quando, sem o menor aviso, sem a menor cerimônia o empresário se volta para o conhecido e diz: “Ah… é melhor deixar pra lá porque o meu outro parente já está vendo tudo isso”.

É claro que um balde de água fria foi jogado sobre a cabeça do “conhecido” que, até aquele momento, entendia estar iniciando uma boa negociação de acordo com os dados e situações expostas pelo empresário, mas, na verdade, o que o empresário queria era apenas sugar a atenção do conhecido, este foi o único motivo, alimentar e inflar seu ego com importância que, neste caso, nem era dele ou de algo que o pertencia mas simplesmente demonstrar poder com o alheio.

Este é o comportamento médio das “vampiras” e “vampiros” travestidos de empresários que encontramos. Sempre estão com algo que interesse para suas “vítimas” e as envolvem em uma teia de desejos e possibilidades empresariais que, ao fim, serão inatingíveis

Outro modus operandi dessas empresárias e empresários é o pedido frequente e contínuo de propostas comerciais. Este artifício é utilizado normalmente para fornecedores e prestadores de serviço que necessitam negociar para manter seu sustento.

Em face desta situação as empresárias e empresários vampiros ficam aguardando as ligações, e-mails, mensagens de whatsapp até exaurirem toda e qualquer forma de iniciativa de quem procura e pensa que precisa manter algum tipo de relação com estas criaturas nefastas.

Para quem acha que só com o pensamento alheio que o método é corroborado, Adam Smith, pai da economia moderna disse:

“não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu auto-interesse

Esta frase demonstra a alavanca das negociações, mas também deixa muito bem claro que TEM QUE SER uma via de duas mãos. A necessidade de se alimentar ao interesse em fornecer o jantar. Neste caso em particular existe uma necessidade real com um interesse real. A intersecção destes dois fatores resultam em uma negociação clara, leve, objetiva e lucrativa para ambos.

As empresárias e empresários vampiros estupram o equilíbrio desta balança para obter a atenção que, em tese, não está satisfeito dentro de si. Não há limites de ação para alcançarem o quantitativo de atenção que essas criaturas pensam ser suficiente, mas que na verdade, nunca trará alegria e paz. Este tipo de empresária ou empresário são, normalmente, “descoladas” e “descolados” externamente mas nutrem uma grande frustração interna. Em função disso manipulam quem se aproxima precisando de algo que possuem ou que podem auxiliar no contato não apenas para se sentirem úteis, mas para, ao final, interromper o processo e serem “beneficiados” com a frustração de suas presas.

Elas e eles não pensam em sociedade equilibrada, não se surpreendem com um caminhão de mudança baixando a rampa para uma senhora poder chegar no seu carro sem molhar os pés na enxurrada, não compreendem que o real e verdadeiro bem comum deve ser o objetivo do empresariado. Sua compreensão mal vai além do fim da mesa que ocupa e chamam de sua. Não estão preparados para somar, apenas para subtrair dos outros para aumentarem seus saquinhos de moedas mesmo que isso signifique esvaziar ou nada colocar no saquinho dos demais e para que este sentimento não venha à tona colaboram com entidades assistenciais, fazem parte de associações onde “os bons” se reúnem e diluem seu veneno com a sociabilização da culpa posta à mesa de jantares, festas, celebrações de “dias especiais” que camuflam o comportamento sórdido e enganoso.

Uma consideração pertinente é observar que estas empresárias ou empresários vampiros estão, normalmente, dentro de empresas familiares.

Qual o remédio: Para quem trabalha com alguma “vampira” ou “vampiro”: mantenha a distância e não se deixe enredar pelas teias destes seres. Para quem é prestadora ou prestador de serviço ou fornecedora/fornecedor: tenha ciência que precisarão do triplo ou quádruplo de energia para conseguir a metade ou um terço do que pretende inicialmente. O segredo de negociação com estas criaturas é provar que o que está sendo oferecido trará lucro social rápido.  

Se você achou o texto engraçado é porque conhece alguém com este perfil, mas, se você ficou irritada ou irritado com o texto é porque possivelmente é uma empresária “vampira” ou empresário “vampiro”. Se quiser mudar isso, me procure que te corrijo mas atenderei você por vídeo conferência.

Até o próximo “Que tipo de empresária ou empresário você é?”

*Daubert Gonçalves é Graduado em Gestão Pública, MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades, MBA em Ciências Políticas, Bacharelando em Administração Pública e Auditor Interno ISO 9001/15.